terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Reportagem - Fé faz bem

Hospital São Paulo


De leito em leito
Uma vez por semana, a paulistana Edna Maria Molnar, 54 anos, passa o dia no Hospital São Paulo, na capital paulista. Percorre quartos, enfermarias, corredores, berçários, emergências e unidades de terapia intensiva. Voluntária há 15 anos da capelania evangélica que atua no hospital, Edna leva aos doentes e acompanhantes palavras de confiança e consolo, um abraço, um toque, ou faz preces com quem lhe pede. “Convivi com pacientes que se recuperaram de comas e também com aqueles que não sobreviveram, mas viveram seus últimos dias de maneira serena”, conta Edna.
O pastor batista Antonino Pinho Ribeiro, autor do livro Há Graça no Sofrimento?, coordena a Capelania Evangélica do Hospital São Paulo desde sua criação, há 21 anos. O serviço atua em conjunto com a direção médica da instituição, prestando assistência espiritual, emocional e social a pacientes, familiares e funcionários, respeitando a individualidade de cada um, sem distinção de credo, raça, sexo ou classe social. “Os voluntários são treinados e não podem ter posição religiosa extremada, que possa comprometer o trabalho”, destaca o capelão. “Graças ao acompanhamento e atenção dos voluntários, muitos pacientes ficam mais tranquilos e respondem melhor ao tratamento”, atesta a fisioterapeuta Jaqueline Spoldari Diniz.
No Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, as capelanias católica, evangélica e espírita conduzem atendimento semelhante. Diariamente os voluntários visitam pacientes nos leitos e dão apoio a familiares. Morador de Boituva (SP), o aposentado Sílvio Ribas Sobrinho integra o grupo há 21 anos. “Quem não tem espírito de família, de cuidar do outro, não permanece no serviço, em que mais de 70% das pessoas internadas são portadoras de HIV, condição ainda carregada de estigma e preconceito”, conta.
Coordenador dos três serviços de assistência religiosa oferecidos no Emílio Ribas, que inclui participação nos comitês de ética em pesquisa, humanização e cuidados paliativos, o padre João Inácio Mildner explica que a missão é dar força ao doente para enfrentar seu problema de saúde. “Por meio da amizade que desenvolvemos, trabalhamos para ajudá-lo a se recompor e para conscientizá-lo de que é agente de seu tratamento”, ressalta o religioso, que admite muitas vezes sentar-se ao lado dos voluntários para chorar a perda dos amigos que fizeram ao longo da jornada no hospital.
A assistência religiosa é assegurada pela Constituição e pela Lei 9.982/2000, que garantem aos religiosos o acesso aos hospitais públicos e privados. Suas atividades devem obedecer a normas internas de cada instituição. A capelania hospitalar no Brasil começou em 1858, com os católicos, para atendimento a feridos de guerra. Estima-se que o serviço seja mantido em apenas 30 hospitais brasileiros.

Fonte:
Revista do Brasil - Edição 66 - Dezembro de 2011


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